sexta-feira, 25 de maio de 2012

POPULAÇÃO SEM ÔNIBUS

Sem ônibus, população fica refém dos clandestinos

Franco Adailton e redação

   Raul Spinassé / Agência A TARDE 

Apesar da determinação da Justiça de que 60% da frota de ônibus estivesse nas ruas no horário de pico (período de maior movimento das 5 às 8h e das 17 às 20h) e 40% nos demais horários, nenhum transporte coletivo circulou em Salvador nesta quinta, 24, no segundo dia de greve dos rodoviários, o que deixou a população refém do transporte clandestino como vans, carros de passeio e micro-ônibus.
A manutenção de uma frota mínima de coletivos nas ruas da cidade foi determinada pela presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região, desembargadora Vânia Tanajura Chaves e vem sendo descumprida pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário no Estado da Bahia. A multa é de R$ 50 mil por dia. Em função da paralisação, as estações de transbordo ganharam o aspecto de abandono, a exemplo da Lapa, onde uma das vias, antes ocupada por ônibus e passageiros, foi transformada em um campo improvisado de futebol.
Enquanto isso, passageiros se arriscam indo ao trabalho em carros clandestinos. Durante o dia de quinta, agentes da Transalvador abordaram dez vans e recolheram uma delas cujo motorista não era habilitado para dirigir esse tipo de veículo e estava com documentação vencida.
“A greve aumentou consideravelmente o número de clandestinos nas ruas. Diria que triplicou a quantidade. Por isso, intensificamos a fiscalização”, disse o superintendente do órgão, Alberto Gordilho.
Escolta - Apesar de a polícia militar ter anunciado que asseguraria escolta policial ao rodoviário que saísse para as ruas no cumprimento à determinação da frota mínima, o vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários, Euvaldo Alves, informa que dois ônibus foram enviados pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador (Setps) para pegar os rodoviários nos bairros, na madrugada de quinta. No entanto, “faltou comunicação para estabelecer os horários. Os ônibus circularam, com escolta policial, mas não acharam o pessoal”.
“O Setps tem de sentar para combinar os horários, porque queremos cumprir o que a Justiça mandou”, acrescentou. A assertiva do rodoviário, no entanto, não confere com a versão informada pelo assessor de relações sindicais do Setps, Jorge Castro: “Pelo menos dois ônibus, de cada uma das 18 empresas, saem para buscar os trabalhadores, a partir das 2h. O problema é que, ao chegar com os trabalhadores nas garagens, os piqueteiros impedem que saiam com os veículos”.
A reportagem de A TARDE percorreu as garagens das empresas Vitória Bahia (Jardim Cajazeiras), Joevanza e Vitral (Pernambués), União (Avenida Barros Reis) e Transol. Nessa última, uma viatura da Polícia Militar estava à disposição dos motoristas que quisessem trabalhar, mas ninguém saiu. “Engraçado é que diariamente, a gente é assaltado, os passageiros correm risco, e não tem polícia”, ironizou um rodoviário, que não se identificou.
Clandestinos - Durante todo o dia de quinta, trabalhadores se aglomeravam nos pontos na tentativa de arriscarem a locomoção em vans e carros particulares não legalizados, que circularam pela cidade apesar da fiscalização da Transalvador. “Se não fossem as vans circulando na cidade eu não estaria ganhando minhas diárias”, disse o encanador Paulo Soares Pires, 32 anos, uma espécie de faz-tudo que costuma fazer duas visitas por dia, cada uma com ganho de R$ 30.
Caso ficasse em casa já teria um prejuízo, nesta sexta, no terceiro dia de greve, de cerca de R$ 90. “Por isso tive de arriscar sair para trabalhar, mas só consegui ir a um destino. Sustento esposa e mais três filhos”, revelou. Ele deixou sua casa, no subúrbio de Periperi, por volta de 7h e às 18h30 ainda aguardava condução de volta para casa. “Não faço ideia a que horas vou chegar”, afirmou.

*Colaborou Helga Cirino

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