quinta-feira, 26 de abril de 2012

FORUM BUS 2012

Renovações dos sistemas são constantes com licitações. Mercado de usados se torna cada vez mais restrito e competitivo. Ônibus com boas condições têm sido encostados. Eles não poderiam ter utilidade em outros sistemas e serviços?
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O ano de 2011 foi recorde em toda a história da indústria de ônibus no Brasil.
De acordo com balanço da Fabus, Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, foram feitas no ano passado 35 mil 531 carrocerias pelas suas associadas: Marcopolo, Ciferal, Comil, Indusscar, Irizar, Neobus e Mascarello. A maioria foi para a configuração urbana.
São ônibus novos que aposentaram os que já estavam em circulação, num número maior que o que se via costumeiramente no setor. Além disso, algumas renovações se trataram de antecipações, ou seja, ônibus que ainda poderiam rodar por mais um tempo, respeitando os limites estipulados pelos poderes públicos locais, que acabaram deixando os serviços. E há ônibus que oferecem condições de uso, inclusive com acessibilidade, mas que estão nos pátios das revendedoras, perdendo valor. O que fazer com eles?
No Fórum 2012, o Canal do Ônibus, portal especializado no setor de transportes de passageiros, se propõe a discutir, com a participação de diversos agentes envolvidos, desde passageiros, frotistas, revendedores a fabricantes, este aspecto pouco citado neste segmento tão importante no dia a dia das pessoas e no desenvolvimento econômico, urbano e social.
É necessário entender, no entanto, entender os motivos pelos quais as renovações de frota têm sido tão intensas.
QUESTÕES AMBIENTAIS
Um fato marcante foi antecipação da renovação da frota feita pelos empresários de ônibus diante da mudança dos padrões de emissões de poluição.
Até o mês de dezembro de 2011, as fabricantes seguiam os padrões baseados nas normas européias Euro III. A partir de janeiro, passou a vigorar a fase P 7 do Proconve - Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores, com base nas normas Euro V.
Os ônibus poluem bem menos: 60% de redução de óxidos de nitrogênio (NOx) e 80% de materiais particulados.
Mas para atenderem às novas exigências de emissão, os ônibus precisam de novas tecnologias que deixam os veículos até 15% mais caros.
Para escaparem destes preços mais altos, no ano passado, os empresários correram para as compras e mesmo os ônibus que deveriam ser comprados neste ano ou no próximo, já foram adquiridos em 2011, por valores menores. A produção dos ônibus Euro III foi proibida a partir de janeiro, mas a comercialização dos chassis em estoque foi permitida até 31 de março deste ano. Daí, a discrepância entre os números de produção e de emplacamentos (que foram maiores) no primeiro trimestre deste ano.
Algumas mudanças na operação dos modelos dos ônibus menos poluentes também deixaram os empresários pouco confiantes em relação ao início do vigor das novas tecnologias. Uma delas é a necessidade do uso do ARLA 32 (Agente Redutor Líquido Automotivo), feito com 32% de uréia industrial, um fluido que é colocado num reservatório separado do tanque do diesel. O ARLA 32 provoca uma reação química no sistema de escape e transforma o óxido de nitrogênio, que é cancerígeno, em nitrogênio puro, um material encontrado no ar naturalmente.
Para os empresários, o ARLA 32 é visto como um custo a mais. As fabricantes dizem que os motores Euro V são mais econômicos, o que "compensaria" os custos maiores com o ARLA. Isso talvez se aplique nos grandes centros. Frotistas e transportadores autônomos dizem que o produto está em falta sim nas regiões mais afastadas destes centros. E como em todo "bom e velho" capitalismo, quando a procura é alta e a oferta é pequena, os preços sobem. Há relatos de cobrança de até R$ 7,00 o litro de ARLA, bem acima do valor do litro do diesel, mesmo o ARLA sendo mais fácil de produzir e transportar que o combustível dos ônibus e caminhões.
QUESTÕES LEGAIS E LICTAÇÕES
Desde 1988, a Constituição Federal determina que serviços como de transportes coletivos, urbanos ou rodoviários, sejam regidos por contratos de concessão estabelecidos após a realização de licitações.
Mas parece que só agora os poderes públicos, pressionados pela sociedade e por órgãos como Ministério Público, se atentaram ao fato.
Se a lei fosse cumprida, a renovação das frotas urbanas seria feita gradativamente e os impactos no mercado de usados seriam menores. Mas tudo ficou para os anos mais recentes.

Para se ter idéia de alguns exemplos de grandes renovações entre 2010 e 2011:

- Mauá (SP): 86 ônibus zero quilômetro com a entrada de uma nova empresa na cidade
- Sorocaba (SP): 179 ônibus novos previstos também com um novo consórcio operador
- Diadema (SP): 194 ônibus novos com os inícios da operação de duas novas empresas.
- Curitiba (PR): 557 veículos novos, desde o ano passado, na capital paranaense e nos municípios da região metropolitana, que fazem parte da RIT - Rede Integrada de Transporte.
- Manaus (AM): Foram colocados desde o ano passado 831 ônibus novos e o número deve chegar a 944 veículos.
Outros exemplos não faltam.
Além da colocação dos ônibus novos, as licitações exigem um tempo menor de vida útil dos veículos, que dependendo das cidades varia entre 10 e 15 anos de idade máxima.
A questão é polêmica entre o mercado e os próprios operadores de transportes.
Dependendo do uso do ônibus, em 10 anos, o veículo pode estar demasiadamente desgastado. Em outros casos, o ônibus pode apresentar boas condições de conforto e segurança, como são os exemplos dos veículos que operam em corredores exclusivos, com pavimento adequado.
Mesmo assim, estes ônibus têm sido encostados.
NÃO SÃO SÓ URBANOS
Quem pensa que a limitação de idade dos ônibus atinge mais o segmento dos veículos de configuração urbana, não acompanha a movimentação do mercado em já substituir ônibus rodoviários de forma mais marcante.
Além das renovações necessárias, as empresas estão de olho na licitação de 1967 linhas de ônibus interestaduais e internacionais promovidas pela ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres.
Apesar de as empresas divergirem de vários pontos do certame, inclusive sobre a quantidade de frota determinada pela agência do Governo Federal, tida como insuficiente pelas companhias de ônibus, as empresas de olho nos 18 grupos e 60 lotes que o sistema será dividido já se movimentam e a procura por veículos novos também mostra um sinal de aquecimento do mercado de rodoviários.
O Governo Federal estima que suprem o sistema de ônibus rodoviários 6 mil 152 ônibus com mais 639 de reserva. As empresas alegam que com menos de 10 mil veículos não é possível atender a demanda.
Mas esta polêmica à parte, a ANTT estipula idade média de 05 anos para a frota e máxima de 10 anos.
Hoje, a idade média é de cerca de 15 anos e há ônibus com aproximadamente 30 anos de uso.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostra que metade da frota de ônibus em circulação nos serviços rodoviários interestaduais e internacionais, para cumprir a idade exigida pela ANTT, caso a licitação realmente saia do papel este ano, precisaria ser trocada.
Isso significa cerca de mais de 4 mil ônibus rodoviários nas estradas brasileiras.
Muitos veículos, portanto, serão encostados.
COPA, OLIMPÍADAS E MODERNIZAÇÃO:
Mas as questões envolvendo as renovações das frotas de ônibus não se limitam às antecipações por conta do encarecimento dos valores dos veículos com novas tecnologias, legislações e licitações, assuntos internos do País.
A renovação dos ônibus brasileiros tem uma dimensão internacional.
Em 2014, o País vai sediar a Copa do Mundo em 12 cidades. Em 2016, é a vez do Rio de Janeiro. E o Brasil não pode fazer feio para o mundo.
O cidadão brasileiro necessita de mobilidade com qualidade independentemente do o País sediar um evento internacional que dura cerca de um mês.
Mas é hipocrisia dizer que a mobilidade está sendo pensada apenas para o cidadão. É para Copa mesmo. O legado? Espera-se que seja o melhor para o cidadão e não obras que depois sejam subaproveitadas, mesmo com tantos investimentos, enquanto a maioria da população precisa de meios no mínimo dignos para se locomover.
De toda a forma, diversas cidades estão investindo em sistemas de corredores de ônibus modernos, do tipo BRT - Bus Rapid Transit, que comportam ônibus de grande porte, como articulados e biarticulados.
Além da substituição dos ônibus mais antigos, estes veículos reduzem o número de veículos em operação, o que traz benefícios para o meio ambiente, com menos emissão de poluentes, e para o trânsito. Em corredores, os ônibus não ocupam os lugares dos carros e por não ficarem presos no trânsito, menos ônibus conseguem fazer mais viagens.
Além disso, um ônibus articulado ou biarticulado pode substituir até 04 ônibus convencionais.
São mais veículos aposentados.
UMA SOLUÇÃO E UM PROBLEMA
A renovação da frota de ônibus de forma mais intensa, embora que ainda em várias regiões, a frota é bastante sucateada, traz diversos benefícios não só aos passageiros, mais a toda a comunidade:

- Ambientais: os ônibus novos são menos poluentes em diversos aspectos. Os movidos a diesel, hoje usam o combustível do tipo S 50, que possui menos partículas de enxofre. A tecnologia atual, Euro V, com o uso do Diesel S 50, reduz significativamente a emissão dos cancerígenos óxidos de nitrogênio e materiais particulados. Há também ônibus com tecnologias alternativas ao petróleo, como o diesel de cana de açúcar (Mercedes Benz), biodiesel (Volkswagen), etanol (Scania), elétrico híbrido (Volvo ou Eletra) e o trólebus que foi modernizado (Eletra). Em Curitiba, por exemplo, o maior ônibus do mundo, os Ligeirões Azuis Biarticulados, tem como fonte de energia 100% de Biodiesel. A poluição nas linhas operadas pelos Ligeirões caiu 63% no último ano, segundo a Urbs, Urbanização de Curitiba S.A., que gerencia os transportes da cidade de Curitiba e da região metropolitana.
- Conforto e Segurança: Os novos ônibus seguem os mais modernos padrões e exigências legais de conforto e segurança, que vão desde motores eletrônicos e sistemas de freios mais eficientes, a saídas de emergência dispostas de forma melhor, e há faixas refletivas ao longo da carroceria que melhoraram a visualização dos ônibus por parte de outros motoristas e pedestres, principalmente à noite. No quesito conforto, os corredores oferecem melhor circulação interna e a distância entre os bancos é maior, oferecendo melhores condições aos passageiros de maior estatura.
- Acessibilidade: Todos os ônibus que saem de fábrica devem oferecer equipamentos que permitem acesso de passageiros que usam cadeira de rodas, como elevadores em ônibus com chassi comum ou rampas em veículos de piso baixo ou cujo sistema permite que ao assoalho fique na mesma altura dos pontos, como ocorre há mais de 20 anos as estações-tubo de Curitiba e que deve ser implantando em outros BRTs que devem ser inaugurados até a Copa. Os ônibus também possuem espaço para cão-guia acompanhante de pessoas com limitação visual.
- Agregar Valor ao Ambiente Urbano: Os ônibus fazem parte do ambiente urbano e do cotidiano das cidades e estradas, mesmo que as pessoas conscientemente não se atendem a estes detalhes. No entanto, até para quem está num carro de passeio de luxo, parar no trânsito ao lado de um ônibus novo e limpo e ao lado de um veículo velho e mal conservado a sensação é diferente. Estudos comprovam isso e as pessoas não precisam entender modelos de chassi e carrocerias. Mas qualquer um saber definir um veículo sem condições.
Assim as renovações de frotas trazem ganhos, acompanhadas claro de planejamento operacional, prioridade ao transporte público e ações de capacitação de motoristas, cobradores, fiscais e outros profissionais de transportes.
E OS ÔNIBUS BONS QUE ESTÃ ENCOSTADOS?
Mas para cumprir todas as exigências legais, de licitação, de mercado para antecipação de frota por causa da mudança dos padrões de redução de poluição, e de modernização de sistemas de mobilidade, muitos ônibus ainda em condições, inclusive com acessibilidade e ofertando conforto e segurança, têm sido encostados.
O que fazer com estes ônibus? Como anda o mercado de usados? As empresas estão revendendo com facilidade ou mais dificuldades os ônibus?
Estas e outras questões importantes sobre este aspecto dos transportes, o Canal do Ônibus, portal especializado no setor, se propõe a discutir.
Todos podem participar: passageiros, empresários, poder público, admiradores de ônibus, revendedores, representantes de montadoras, de encarroçadoras e toda a sociedade.

As respostas ao questionário vão fazer parte de uma levantamento destinado ao setor e vão resultar numa reportagem especial. Por isso, sua participação é essencial.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

FOTO: As renovações de frota estão cada vez mais intensas em todo o País. Diversas cidades têm trocado boa parte dos ônibus. Só em Curitiba, desde o ano passado a previsão é de 557 veículos zero quilômetro para o sistema da Região Metropolitana e Capital, como anuncia a propaganda no vidro traseiro de um deles. As renovações já se intensificam também no segmento de ônibus rodoviários, com a maior licitação de transportes interestaduais e internacionais da história do País, promovida pela ANTT. As renovações têm trazido ganhos não só aos passageiros, mas ao meio ambiente e para o bem estar urbano e nas estradas. Mas por conta de antecipação da troca de frota , devido a mudança de tecnologia de emissão de poluição que deixou os ônibus este ano mais caros, e para seguir a legislação, diversos ônibus em bom estado e já com itens de conforto e acessibilidade tem sido encostados. O que fazer com estes veículos? Eles podem ter alguma utilidade em cidades menos providas de recursos ou mesmo para fins sociais? Foto: Adamo Bazani.

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